Mulheres na Engenharia: quebrando paradigmas
Cada vez mais mulheres escolhem a Engenharia como profissão
e conquistam aos poucos seu espaço, trabalhando em parceria com os
profissionais do sexo masculino. Mas essas conquistas ainda vêm acompanhadas de
muitos desafios, como a condução com sucesso e responsabilidade de uma dupla
jornada, já que muitas dessas engenheiras são esposas e mães, além de atuarem
em cargos de liderança, conforme explica a engenheira Ester Feche Guimarães,
associada e membro da Diretoria da ABES-SP. “As empresas de engenharia têm, em
média, 20% de mulheres em seu corpo técnico. Até 20% dos cargos de média
gerência em áreas de gestão e centros de pesquisa são ocupados por mulheres,
mas somente 3% delas ascendem ao primeiro escalão.
Apesar da participação masculina ainda ser muito superior à
feminina no setor, esta diferença está cada vez menor. Segundo dados do
Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, as mulheres continuam minoria
na engenharia, mas em 2013 chegaram a 19% dos empregados formais. São 17.875 no
total de 92.478. Em 2003, eram 7.829 e representavam 15%. Outro dado
significante é a redução da disparidade por gênero. Em 2003, as engenheiras
tinham salários que representavam em média 75% dos pagos aos seus colegas do
sexo masculino. Em 2013, já obtinham remuneração equivalente a 81%.
Nesse viés de superação, pela primeira vez na história, o
número de mulheres ultrapassa o de homens em um curso de engenharia nos Estados
Unidos – um país em que, em média, só 19% dos diplomas da área vão para
mulheres. Neste ano, na Universidade de Dartmouth, nos EUA, entre os formandos
do curso de engenharia, 54% são mulheres.
Esse cenário representa uma grande mudança se compararmos
com o ano de 1957, quando Evelyna Bloem Souto era a única aluna mulher a frequentar
a primeira turma de engenharia civil da USP São Carlos. Nessa época, o meio era
tão machista que Evelyna foi proibida de entrar no campo de obras de um túnel
que estava sendo feito para ligar a França à Itália. Para conseguir realizar a
visita, ela precisou vestir roupas masculinas, prender o cabelo e pintar uma
barba e um bigode no rosto.
Aqui no Brasil, a situação das mulheres na engenharia
melhorou desde o cenário grotesco de Evelyna, mas os números ainda são
desiguais: entre os calouros da engenharia civil na USP São Carlos em 2014,
elas representavam 36% dos alunos.
Entre os aprovados na Escola Politécnica da USP, 92,7% eram
homens e apenas 6,3% mulheres. Ou seja: ainda há muito a ser feito para que a
igualdade seja alcançada – e talvez as nossas universidades possam se espelhar
na solução encontrada por Dartmouth para mudar o roteiro desse filme.
Além do número menor de mulheres, a escola Politécnica vem
sendo alvo de denuncias de preconceito, racismo e sexismo. Estudantes dos
cursos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) se uniram em um
vídeo da música “Survivor” (Sobrevivente, em português) para chamar a atenção
para o preconceito enfrentado pelas mulheres no curso de Engenharia. Na
gravação, que já alcançou milhares de visualizações no YouTube, as jovens
aparecem apagando palavras e expressões escritas pelo corpo, como “preta”, “mal
amada”, “sexo frágil” e “cara de empregada”.
Os especialistas acreditam que a sociedade, em especial a brasileira, ainda mantém uma visão estereotipada
do cientista, ou seja, vê a ciência e a tecnologia como atividades masculinas.
Há uma implicação direta disso com a imagem positivista de ciência e de
tecnologia e também de como o gênero não fez parte das construções históricas
disponíveis acerca do conhecimento científico e tecnológico, o que acaba levando a essas disparidades entre homens e mulheres no universo das engenharias.
Trazendo para a discussão os Objetos do desenvolvimento
sustentável, temo no objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar
todas as mulheres e meninas. Onde para isso acontecer é necessário acabar com
todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda
parte; eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas
nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de
outros tipos; eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos
prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas; reconhecer
e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da
disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção
social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e
da família, conforme os contextos nacionais; garantir a participação plena e
efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos
os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública; assegurar
o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos,
como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência
Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de
Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de revisão; dar às
mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade
e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros,
herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais; aumentar o uso
de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e
comunicação, para promover o empoderamento das mulheres; adotar e fortalecer
políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero
e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis
FONTES:
ABES. Mulheres na engenharia: conquistas e desafios. 2015. Disponível em: <http://abes-sp.org.br/noticias/19-noticias-abes/6700-mulheres-na-engenharia-conquistas-e-desafios>. Acesso em: 31 maio 2017.
BRASIL, Onu. Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. 2017. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/ods5/>. Acesso em: 31 maio 2017.
ORGUEL, Grupo. Quem disse que engenharia não é coisa de mulher? 2017. Disponível em: <http://www.grupoorguel.com.br/blog/quem-disse-que-engenharia-nao-e-coisa-de-mulher/>. Acesso em: 31 maio 2017.
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