Mulher, negra e advogada ....
Hoje só há uma Seccional presidida por mulher, e o Conselho
Federal nunca foi presidido por uma mulher advogada. Atualmente não há nenhuma
mulher na Diretoria do CFOAB e alguns Conselheiros afirmaram hoje que não há
nenhuma na chapa que está sendo negociada para o próximo triênio. Os dados
publicados em 2017 já apontavam que as mulheres já representavam 48,2% dos
advogados inscritos na Ordem.
Em 1906 legitimou-se profissionalmente Myrthes Gomes de
Campos, a primeira mulher a exercer a advocacia no Brasil. Concluiu o
bacharelado em Direito em 1898, mas, por conta do preconceito, só conseguiu
ingressar no quadro do Instituto de Advogados anos mais tarde.
Desde a estreia de Myrthes, foram necessários 55 anos até
que uma juíza fosse empossada no Brasil. O feito coube à magistrada de Santa
Catarina Thereza Grisólia Tang, em 1954. Outros 46 anos se passaram até que uma
mulher, Ellen Gracie, fosse admitida no STF.
Ellen Gracie abriu as portas para o mais alto posto da
Corte, assumindo a presidência do STF de 2006 a 2008. Hoje, a ministra Cármen
Lúcia é quem assume o comando do Supremo. A ministra Laurita Vaz é a primeira
mulher à frente da presidência do STJ e dirige a Corte pelo biênio 2016-2018.
Além do comando das Cortes, é crescente a conquista por
direitos às advogadas. Em 2014, as mulheres passaram a ter o espaço de 30% nas
chapas nas eleições da OAB. A medida foi aprovada pelo Conselho Pleno a fim de
reparar os anos de desigualdade contra as advogadas. As mulheres representam
hoje quase metade dos inscritos na Ordem.
Em 2015, Dilma Rousseff, a primeira mulher a assumir a
presidência da República do Brasil, sancionou lei (13.104/15) que altera o CP
para estabelecer o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de
homicídio e inclui-lo no rol de crimes hediondos.
Outra conquista feminina foi a lei 13.363/16, sancionada no
ano passado e prestes a completar um ano, a qual determinou que as mulheres que
derem à luz ou adotarem um filho podem ter prazos processuais suspensos nos
feitos em que estiver atuando isoladamente. A lei altera o artigo 313 do CPC,
que trata das possibilidades de suspensão de prazo. A iniciativa foi da advogada
Daniela Teixeira, na qualidade de diretora da OAB/DF, que reuniu, no fim de
2015, mais de 400 advogadas a fim de elaborar o projeto de lei.
A nova legislação altera também o Estatuto da Advocacia para
garantir que as gestantes e lactantes sejam dispensadas de passar em aparelhos
de raio X e, ainda mais importante, terão prioridade nas sustentações orais.
"Sempre que falamos em racismo, dizem que é vitimismo. O que aconteceu naquela situação foi uma violação à minha dignidade como pessoa humana, não apenas como mulher negra. Sou negra, não vou mudar. Quero trabalhar livremente”
Valéria Lúcia dos Santos.
Em entrevista coletiva realizada na sede da OAB/RJ nesta
terça-feira, dia 11, o presidente da Comissão de Prerrogativas da Ordem,
Luciano Bandeira, anunciou que a entidade pedirá punição máxima para os
policiais militares e para a juíza leiga envolvidos nos fatos ocorridos nesta
segunda-feira, no 3º Juizado Especial Cível de Duque de Caxias. A advogada
Valéria Lúcia dos Santos foi algemada e retirada da sala de audiência por
policiais militares sob ordens da juíza leiga Ethel de Vasconcelos. A primeira
medida já ganhou materialidade: a pedido da Ordem, o juiz titular do Fórum,
Luiz Alfredo Carvalho Júnior, tornou sem efeito a audiência, que foi
redesignada para o dia 18 de setembro, e será presidida por juiz togado.
Nas palavras de Luciano, a postura é de “perplexidade e
indignação”. “O que aconteceu nesta segunda-feira em Duque de Caxias é algo que
não ocorria nem na ditadura militar. Uma advogada no exercício da profissão
presa e algemada dentro de uma sala de audiência. Isso é inconcebível, é uma
afronta ao Estado de Direito, à advocacia brasileira e ao direito de defesa.
Tomaremos providências contra os policiais militares que prenderam e algemaram
a colega, contra a juíza leiga que tomou essa medida pavorosa, e tomaremos as
medidas necessárias para que Valéria seja ressarcida pelos danos experimentados
por esse episódio tenebroso”, disse Luciano, que anunciou também o desagravo à
advogada, que será promovido pela Seccional na porta do Fórum de Caxias, na
próxima segunda-feira dia 17, às 15h. O evento terá a presença do presidente do
Conselho Federal, Claudio Lamachia.
“Nada justifica o que ocorreu. Mesmo que a advogada
estivesse errada em algo, caberia à magistrada registrar essas eventuais falhas
em ata, jamais fazer o que fez. Segundo a Súmula Vinculante 11 do Supremo
Tribunal Federal, ela não poderia ter sido algemada. E existe legislação
federal que veda a prisão do advogado no exercício da sua profissão, salvo em
caso de crime inafiançável, o que não poderia ser o caso”.
A Ordem representou junto ao Tribunal de Justiça contra a
juíza leiga, exigindo seu imediato afastamento das funções e também encaminhou
o caso ao Tribunal de Ética para avaliação – como juíza leiga, Vasconcelos é
também advogada. Será feita, também, uma representação contra os policiais
militares, pela prisão e pelo uso de algemas. A entidade tomará ainda medidas
civis e criminais para que a advogada seja ressarcida pelos eventuais
prejuízos.
Ela acrescentou ainda que não deseja resumir o fato à
questão racial. “Sempre que falamos em racismo, dizem que é vitimismo. O que
aconteceu naquela situação foi uma violação à minha dignidade como pessoa
humana, não apenas como mulher negra. Sou negra, não vou mudar. Mas quero
trabalhar livremente. A juíza leiga é advogada como eu, por que as algemas?”,
questionou.
A vítima das violações, Valéria Lúcia dos Santos, relatou
como tudo aconteceu: “Era um dia normal de audiência, a causa era sobre uma
cobrança indevida. Como não houve acordo, eu teria que ver a contestação da ré,
algo simples. A juíza negou esse pedido, então saí em busca de um delegado de
prerrogativas da OAB/RJ. Quando voltei, ela comunicou que a audiência havia
sido encerrada. Por isso minha resistência para não sair da sala, para que o
delegado visse as violações que estavam ocorrendo. É meu direito como advogada
impugnar documentos. A juíza chamou a força policial, e me mantive na
resistência, nas prerrogativas profissionais. Os vídeos falam por si só, tirem
as conclusões de vocês”, disse.
Para o presidente da OAB/Duque de Caxias, Vagner Sant’Ana, a
questão de fundo é de fato a dignidade da pessoa humana. “Não apenas os
advogados, mas o cidadão não pode ser tratado dessa forma no ambiente da
Justiça. A atuação dos delegados de Duque de Caxias foi exemplar. Estaremos
presentes tanto na próxima audiência da Valéria quanto no ato de desagravo no
dia 17”, elogiou. Sant’Ana foi pessoalmente ao fórum solicitar providências
como a anulação da audiência.
Também participaram da coletiva o secretário-geral da
OAB/RJ, Marcus Vinícius Cordeiro; a presidente da Comissão OAB Mulher, Marisa
Gaudio; a coordenadora do Grupo de Trabalho Mulheres Negras da OAB Mulher,
Marina Marçal; o presidente da Comissão de Prerrogativas da 2ª Subseção, Jorge
Mendelson; e o delegado de Prerrogativas em Duque de Caxias, Marcelo Vaz, que
prestou assistência na hora do ocorrido.
FONTES:
http://www.oabrj.org.br/noticia/113902-oabrj-pedira-punicoes-em-caso-da-advogada-algemada
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI269471,31047-Mulheres+no+Direito+e+igualdade+de+genero+sao+tema+de+debate
É revoltante uma magistrada agir dessa forma. Sabemos que ha muitas situações parecidas com essa diariamente em todos os lugares, com mulheres, negros, enfim, mas quando o caso parte de quem esta ali somente para dar o seu veredito e não para humilhar é de fato muito triste, causa uma tamanha indignação, poderia ser com qualquer ser humano, nada justifica o ato dela. Deve-se ter o respeito e bom senso com todos, É claro, que por mais que a mulher já tenha conquistado seu espaço no mercado de trabalho, ainda existe sim muito preconceito. Acredito que essa Juíza foi muito Infeliz com essa atitude.
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