‘La Bête’ .... Arte, pedofilia ou histeria?
É difícil
definir o que é arte. Mas uma coisa é certa: ela não tem mais obrigatoriamente
o compromisso com o belo. Isso há muito tempo já. Se olharmos a arte
renascentista veremos magníficos quadros retratando paisagens e pessoas que ou
eram reais ou poderiam muito bem o ser.
No
Impressionismo, os traços começam a perder a correspondência com o real, e
depois entram outros tantos movimentos que nos fazem experimentar muito mais o
subjetivo do que o objeto em si. Duchamp colocou um mictório e uma roda de
bicicleta em um museu. Picasso colocou pessoas desfiguradas.
Depois da
fotografia, que graça tem pintar um quadro que retrata uma mulher exatamente
como ela é, como era feito na Idade Média? Abra um livro de Sebastião Salgado e
você verá que a arte na foto é bem diferente das fotos comuns do dia a dia.
Ainda que experiências estéticas, suas obras muitas vezes nem parecem coisas
fotografadas na Terra.
Enfim, há
muita discussão sobre o que é arte e o que não é. Discussão que passa inclusive
pelos próprios artistas e intelectuais, e que vez ou outra atinge o público com
a mesma pergunta. Mas fato é que ela não tem mais um compromisso com o
esteticamente belo.
Neste sentido,
gosto bastante de um conceito de Heidegger sobre a arte: o de que ela é feita
para que atinjamos a verdade de uma maneira não-convencional. Uma coisa é ler o
capítulo do DSM-V sobre depressão. Outra coisa é assistir Melancolia, de Lars von
Trier. Uma coisa é ler sobre consumismo, a banalização do cotidiano, e outra
coisa é ver uma tela de Andy Warhol. Ambas trazem verdades semelhantes, mas
acessíveis de maneiras diferentes.
A primeira é
que andamos muito indignados. A ponto de exortarmos uma agressividade muitas
vezes desmedida. O ponto central da exposição não foi o nu em si. Quantas obras
já não trouxeram pessoas sem roupas?
A questão foi
que uma criança estava na instalação tocando o artista nu, com consentimento da
mãe. Também não acho a atitude adequada. Mas podemos pensar que não sabemos que
educação esta mãe dá a sua criança, quais códigos ela passa. Se pensarmos ser
uma família adepta do naturismo, perceba que a coisa muda de figura. Seria
apenas mais uma nudez. Ameniza.
Não obstante
este argumento hipotético, ainda acho errado. Exposição excessiva e precoce à
nudez faz mal à criança. Não sou eu quem estou dizendo, são diversos estudos
relacionando problemas na vida adulta à esta exposição. São os pacientes da
prática clínica.
Além do mais,
a mãe pode ter uma concepção (madura) do que é obra de arte contemporânea. Mas
e a criança? Se muitos adultos não entenderam a proposta da obra, que dirá uma
criança? Complicado controlar o que uma simples garota acha daquilo. A mãe
talvez não devesse tê-la levado para aquela sala. Mas daí a
chamar de pedofilia, também não. A verdade é que as redes sociais são terreno
fértil para a histeria coletiva. Multiplicaram-se os hashtags de
pedofilianãoéarte, transformando-o no assunto mais comentado dias atrás.
Uma verdade que Schwartz mostrou foi a de que estamos todos à espreita, esperando um mínimo deslize para jogarmos todo o nosso ódio e insatisfação nas redes. Parece que somos um barril de pólvora a procura de uma faísca. Qualquer sinal de ato moralmente reprovável amplifica-se nas redes sociais, ganha corpo e desfigura o fato em si.
PARA SABER MAIS
OPINIAO DO PÚBLICO
OPINIÃO JURÍDICA
FONTE
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