100 anos de arte moderna - Anita Malfatti




Anita Malfatti é considerada umas das principais pintoras brasileiras do século XX. Suas pinturas abalaram os mais conservadores e foram um marco para o Modernismo brasileiro. Juntamente com Tarsila do Amaral deu voz às mulheres nesse período.

Ela aprendeu a pintar com a mãe, seus estudos fora do país foram financiados pelo tio, após a morte do pai. Anita nasceu com uma atrofia no braço e na mão direita. Em função disso, aos 3 anos de idade foi levada a Itália para tentar corrigir a má formação congênita, os resultados não foram animadores e Anita teve que aprender a conviver com sua deficiência. Teve à sua disposição quando criança uma governanta inglesa que lhe ajudou nessa tarefa, desenvolvendo o uso da mão esquerda.

Em 1910 acompanhou as primas a uma viagem a Europa, frequentou aulas no ateliê de Fritz Burger e matriculou-se na Academia Real de Belas Artes em Berlim. Foram seus primeiros contatos com a pintura Expressionista. De volta ao Brasil em 1914, Anita tinha planos de ser contemplada como uma bolsa de estudos e voltar a viajar. Fez uma exposição individual, mas em função da Primeira Guerra Mundial seus planos tiveram que ser adiados. Seu tio voltou a financiar sua viagem, dessa vez para os Estados Unidos onde morou por dois anos e estudou na Art Students League sob a orientação de Homer Boss. Anita nasceu em São Paulo, em 02 de dezembro de 1889 foi a segunda filha do casal Samuel Malfatti e Betty Krug.

Anita Mafalti voltou para o Brasil em 1917 com muitas telas prontas e realizou mais uma exposição individual com 53 quadros. Nesse período o país vivia a República Velha (1889-1930), instaurada após a queda do Império. A economia brasileira era dominada pelas oligarquias do Sudeste, que se alternavam no poder político. O interior do Brasil ainda era considerado um “grande sertão”, que mantinha as estruturas tradicionais do coronelismo.

Nesse contexto histórico, há cem anos, São Paulo assistia à inauguração da Exposição de pintura moderna Anita Malfatti, evento que alteraria para sempre o curso da história da arte no Brasil, em 1917 – a primeira exposição de arte moderna do país. A exposição causa furor nos conservadores e Monteiro Lobato, crítico de arte na época, lança um texto no jornal O Estado de São Paulo, criticando a jovem artista. No texto "Paranoia ou mistificação?", Monteiro Lobato dizia que Anita deixou-se influenciar por Picasso e sua turma. Após as manifestações de Lobato as telas que foram compradas na exposição foram devolvidas e vários outros jornais começaram a atacar Anita. No entanto, Anita teve amigos que a defenderam como Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Menotti Del Pichia entre outros.

Do conjunto ali reunido, chamavam especial atenção as paisagens construídas por meio de manchas de cores fortes e contrastantes, e, nos retratos, os enquadramentos insólitos, as deformações anatômicas, o colorido não naturalista. As extravagâncias expressivas – aos olhos dos matutos que, até então, só haviam tido contato com pinturas acadêmicas ou muito próximas disso – sinalizavam o impacto que a arte de vanguarda tivera sobre a artista durante o período de aprendizado no exterior

Após a exposição de 1917, viveu um clima de sofrimento; até o tio que financiou seus estudos no exterior quis destruir uma das telas a bengaladas. Heroína, lutou contra todos, tendo a seu lado apenas um fiel defensor e sua paixão nem tão secreta assim: Mário de Andrade, que morreu 19 anos antes de Anita, sem nunca dar a definição amorosa que ela tanto queria.

Nesse período, São Paulo se caracteriza como o centro das ideias modernistas, onde se encontra o fermento do novo. Do encontro de jovens intelectuais com artistas plásticos eclodirá na vanguarda modernista. Diferentemente do Rio de Janeiro, reduto da burguesia tradicionalista e conservadora, São Paulo, incentivado pelo progresso e pelo afluxo de imigrantes italianos será o cenário propício para o desenvolvimento do processo do Modernismo. Este processo teve eventos como a primeira exposição de arte moderna com obras expressionistas de Lasar Segall em 1913, o escândalo provocado pela exposição de Anita Malfatti entre dezembro de 1917 e janeiro de 1918 e a 'descoberta' do escultor Victor Brecheret em 1920. Com maior ou menor peso estes três artistas constituem, no período heróico do Modernismo Brasileiro, os antecedentes da Semana de 22.

A Semana de Arte Moderna de 22 é o ápice desse processo que visava atualização das artes, e a sua identidade nacional. Pensada por Di Cavalcanti como um evento que causasse impacto e escândalo. Esta Semana proporcionaria as bases teóricas que contribuirão muito para o desenvolvimento artístico e intelectual da Primeira Geração Modernista e o seu encaminhamento, nos anos 30 e 40, na fase da Modernidade Brasileira.

Após a Semana de 22, apresenta Tarsila do Amaral aos modernistas Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia; formam o "grupo dos cinco" e estão constantemente juntos. Em 1923, ganha o Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e vai para Paris, onde encontraria com Tarsila e Oswald, Victor Brecheret, Paulo Prado e Di Cavalcanti. Anita vive então uma transformação profunda, perde o impulso marcante do expressionismo, deixa de lado o uso de cores violentas e artificiais e começa a representar o mundo de forma mais simples. Volta para São Paulo em 1928, reencontra os modernistas e participa das últimas manifestações do grupo. Nos anos 30, grandes dificuldades econômicas a obrigam a dedicar-se cada vez mais ao ensino da pintura e do desenho, e à pintura decorativa. Mas é no retrato, agora sem deformações, que deixa sua contribuição mais permanente. Aproxima-se da Família Artística Paulista, participando de todas as coletivas do grupo. Os amigos cobrariam o fato de Anita não ter seguido Tarsila no movimento Pau-Brasil. Nos anos 40, Anita visita Belo Horizonte e cidades históricas mineiras. O que ela passa a expor então, são as festas, as procissões, ainda ao lado de retratos e flores, que vão ficando raros.

A pintura de Anita parece estar em um eterno descompasso com sua cidade. A São Paulo cosmopolita irá se constranger ao observar as telas toscas, adocicadas e falsamente ingênuas que Anita passa a produzir após a primeira fase modernista. A artista que pintou obras como "O homem amarelo", "A Boba" e "Mulher de Cabelos Verdes", não quer mais ser vanguarda, nem acadêmica. Ela quer uma pintura simples, facilmente compreendida por todos e que dificilmente será aceita por seus colegas de aventura do modernismo. Nos anos 50 - até sua morte, em 1964 - vive muito distante das polêmicas artísticas, recolhida em seu sítio. Segundo suas próprias palavras "Tomei a liberdade de pintar a meu modo."


Para saber mais:
Obras de Anita Mafaltti: https://obrasanitamalfatti.wordpress.com/

Vídeos:



Fontes:

CULTURAL, Itau. Biografia: Anita Mafaltti. 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8938/anita-malfatti>. Acesso em: 22 abr. 2017.

FLAMINGO, Julia. Anita Malfatti: 100 Anos de Arte Moderna. 2017. Disponível em: <http://vejasp.abril.com.br/atracao/anita-malfatti/>. Acesso em: 22 abr. 2017.

MAC. Anita Mafaltti. Disponível em: <http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/artistas/malfa/obras.htm>. Acesso em: 22 abr. 2017.

MAC. Modernismo Brasileiro. Disponível em: <http://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/artistas/malfa/obras.htm>. Acesso em: 22 abr. 2017.

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