Socialismo e 100 anos da Revolução Russa: 1917-2017
A revolução Russa é um dos
grandes acontecimentos do século XX, que para alguns historiadores seria o
ponto inicial do século XX, e teve repercussões em todo o mundo. Serviu
inicialmente como um contraponto ao capitalismo, e ainda uma crítica ao modelo
soviético. O impacto foi observado nos países centrais e periféricos, com a
possibilidade de uma transformação social. A revolução Russa, até hoje surge
como uma inspiração para novos movimentos sociais. O lema, Paz, Pão e Terra,
ainda se houve em todo o mundo, com uma urgência sobre aqueles que morrem
diariamente, inclusive em nosso pais.
O ano de 2017 marca o
centenário dos eventos históricos mundiais de 1917, que começaram com a
Revolução de Fevereiro na Rússia e culminou em outubro com "dez dias que
abalaram o mundo" – a derrubada do governo capitalista provisório e a
conquista do poder político pelo Partido Bolchevique, sob a liderança de
Vladimir Lênin e Leon Trotsky.
A derrubada do governo capitalista num país de
150 milhões de habitantes e o estabelecimento do primeiro estado socialista de
trabalhadores em toda a história foi o evento de mais profundas consequências
de todo o século 20. Na prática, pôs no poder de um grande país a perspectiva
histórica proclamada 70 anos antes, em 1847, por Karl Marx e Friedrich Engels
no Manifesto Comunista. O estabelecimento de um governo baseado em conselhos de
trabalhadores ("sovietes") – marcou o início de uma revolução
socialista mundial que despertou a consciência da classe trabalhadora e das
massas oprimidas pelo capitalismo e pelo imperialismo em todos os cantos do
planeta.
A Revolução Russa – que
irrompeu cercada pela horrenda carnificina que foi a 1ª Guerra Mundial – provou
que é possível um mundo além do capitalismo, sem exploração e sem guerra. Os
eventos de 1917 e tudo que se seguiu a eles penetraram fundo na consciência da
classe trabalhadora internacional e foram a inspiração política profunda das
lutas revolucionárias do século 20 em todo o globo.
O destino do Partido
Bolchevique, da União Soviética e da revolução socialista no século 20 dependia
do resultado do conflito entre duas perspectivas irreconciliáveis: o
internacionalismo revolucionário promovido por Lênin e Trotsky em 1917 e ao
longo dos primeiros anos de existência da União Soviética, e o programa
nacionalista reacionário da burocracia stalinista que usurpou o poder político
da classe trabalhadora soviética. A perspectiva stalinista antimarxista de
"socialismo num só país" subjaz às políticas econômicas desastrosas
dentro da União Soviética e às derrotas internacionais catastróficas da classe
trabalhadora que culminaram em 1991, depois de décadas de ditadura burocrática
e desmandos, na dissolução da União Soviética e na restauração do capitalismo
na Rússia. O fim da URSS não invalidou a Revolução Russa nem a teoria marxista.
Na verdade, ao longo de sua luta contra a traição stalinista, Leon Trotsky já
antevia as consequências do programa nacional de "socialismo num só
país".
Todas as estruturas da
política mundial estabelecidas nos anos finais da 2ª Guerra Mundial e período imediatamente
posterior estão em adiantado estado de desintegração. A política mundial está
sendo regida pela contradição entre o inexorável processo da globalização
econômica e os contornos rígidos dos estados nacionais. 2016 foi o ano da
aceleração do 'racha' na União Europeia, cujo exemplo mais flagrante foi a
votação pró Brexit e o crescimento de partidos nacionalistas de extrema
direita.
A crise do sistema capitalista global encontra
sua expressão mais avançada precisamente no próprio centro do sistema, os EUA.
Mais que qualquer outro país, os EUA imaginaram que seriam os principais
beneficiários da dissolução da URSS. O primeiro presidente Bush imediatamente
proclamou o nascimento de uma "nova ordem mundial", na qual os EUA
operariam como hegemon sem desafiante possível. Sem iguais quanto ao poder
militar, os EUA explorariam seu "momento unipolar" para reestruturar
o mundo conforme seus próprios interesses. Seus estrategistas acalentaram
sonhos não simplesmente de um novo Século Americano, mas de vários séculos
Americanos! Nas palavras de Robert Kaplan, um dos principais estrategistas de
política exterior dos EUA:
Os bilhões de trabalhadores e
jovens em todo o mundo cresce a indignação e o ânimo para militar. Há sinais de
um ressurgimento da luta de classes e de renovado interesse pelo socialismo e
pelo marxismo.
Nos EUA, 13 milhões de pessoas
votaram a favor de um suposto socialista, Bernie Sanders, nas eleições
primárias do Partido Democrata, não por solidariedade àquela sua política
oportunista, mas porque Sanders denunciava a "classe bilionária" e
clamava por uma "revolução política". Tudo isso é parte de um
processo internacional, ditado pela própria natureza do capitalismo global.
A luta de classes, ao tempo em
que ganha força e autoconsciência política, tenderá cada vez mais a ultrapassar
as fronteiras dos estados-nação. Como a Comissão Internacional da IV
Internacional observou, nos idos de 1988:
A vitória da revolução
socialista em outubro de 1917 provou que a conquista do poder político pela
classe trabalhadora depende, em última análise, de se construir um partido
marxista na classe trabalhadora. Não importa o quanto o movimento da classe
trabalhadora seja grande e potente, só será vitorioso sobre o capitalismo se –
e somente se – o movimento estiver sob a liderança política consciente de um
partido marxista-trotskyista. Não há qualquer outra via para a vitória da
revolução socialista.
O Professor Diego Pautasso
acrescenta que "a experiência soviética teve repercussão no mundo todo.
Impactou a formação dos Partidos Comunistas em todos os países, influenciou
todas as lutas reivindicatórias e revolucionárias, moldou a Guerra Fria e a
formação da noção de cidadania a partir de um conjunto de direitos (educação,
saúde, moradia, trabalho, entre outros, como responsabilidade do poder
público)".
E no Brasil? "A formação
do Partido Comunista, as greves, a luta por direitos foram inspiradas nas
conquistas conseguidas na URSS", conclui Diego Pautasso. "Quanto a
outros movimentos, como o próprio regime militar, eles se deram como oposição a
esta experiência. Em suma, como destaca Domenico Losurdo [filósofo italiano de
formação marxista], o movimento comunista, referenciado na experiência soviética,
teve papel central na luta contra as três grandes discriminações do século XX:
a racial, a de gênero e a de classe, bem como na construção dos Estados de
bem-estar social."
FONTE:
LIBERDADE, Diário da.
Socialismo e 100 anos da Revolução Russa: 1917-2017. 2017. Disponível em:
<World Socialist Website>. Acesso em: 05 abr. 2017.
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