200 Anos de Marx



Há dois séculos nascia um dos nomes com a maior influência para todos que lutam contra as injustiças do sistema capitalista, seja por meio da adoção de uma nova percepção da realidade, seja pela iniciativa da prática transformadora. Filósofo, economista, jornalista e revolucionário comunista, Karl Marx continua tão atual em 2018 quanto nos séculos 19 e 20.

Nascido no dia 5 de maio de 1818, em Trier, então Renânia Prussiana, Marx era filho de um advogado e de uma herdeira de família rica, tendo crescido com conforto financeiro em uma família que poderia ser considerada, à época, de classe média. Um homem do Iluminismo, movimento que no século anterior havia quebrado paradigmas ideológicos em defesa, principalmente, da razão e da liberdade, Marx sempre demonstrou o gosto pelos estudos, ingressando nas Universidades de Bonn e, posteriormente, de Berlim, onde estudou Direito e Filosofia.

Durante a década de 1840, Marx participou de grupos de discussão hegelianos de esquerda, e inaugurou a crítica ao idealismo de Hegel e aos socialistas utópicos, linha de pensamento que posteriormente foi base para a elaboração de seu materialismo dialético. Ao trabalhar como jornalista, Marx teve acesso às experiências, conflitos e realidades que também influenciaram suas reflexões sobre a luta de classes.

O capitalismo, gera crises periódicas que não há como sanar: É uma máquina de autovalorização, que parte da ideia de que há uma percepção de que todos nós temos necessidades, e é preciso uma intervenção para satisfazê-la. No entendimento de Marx, o assalariado recebe do patrão o necessário para sua reprodução enquanto trabalhador. No entanto, ele não produz só o necessário para sua reprodução; ele produz um plus, algo a mais do necessário, o que Marx chamou de mais valia. Quanto mais se economizar mão de obra para produção maior vai ser a fatia que sobra para o empregador. Por mais que a concorrência depois diminua o lucro, se o processo for incessante, ele estará sempre adiante.

Na década de 1980 ninguém tinha a necessidade de um celular, em 1970 de um microondas e em 1940 de uma geladeira. “A relação do homem com a natureza tem uma mudança brutal. Nisso, o capital passou a ser uma entidade que se autovaloriza. Não estamos mais no comando do processo. Estamos dando suporte a uma relação alienada, em que as necessidades estão se expandindo constantemente. Agora, a relação do homem com a natureza é de permanente insatisfação. Sempre estamos nos devendo alguma coisa.

O capitalismo, nesse entendimento, se torna uma engrenagem de autovalorização permanente, em que o homem é engrenagem desse processo. Estamos nos tornando supérfluos, só estamos dando suporte para uma relação que nem os capitalistas controlam.

E vem ainda a mudança da relação do homem com a natureza. O sistema pode ainda criar novas necessidades. A marca do capitalismo é que a produção, o mesmo movimento de busca incessante do lucro, não só revoluciona a própria produção do que se conhece como também do que não se conhece e passa a ser uma necessidade que até o dia anterior não tinha.

O mundo mudou muito desde que Karl Marx escreveu "O Capital" mas não mudou a essência das relações de produção capitalistas", nem a sua natureza exploradora.

O Capital (em alemão: Das Kapital) é um conjunto de livros (sendo o primeiro de 1867) de Karl Marx que constituem uma análise do capitalismo (crítica da economia política). Muitos consideram esta obra o marco do pensamento socialista marxista. Nela existem muitos conceitos econômicos complexos, como mais valia, capital constante e capital variável, uma análise sobre o salário; ou sobre a acumulação primitiva. Resumindo, sobre todos os aspectos do modo de produção capitalista, incluindo também uma crítica sobre a teoria do valor-trabalho de Adam Smith e de outros assuntos dos economistas clássicos.

Resultado de duas décadas de pesquisa sobre o modo de produção capitalista, iniciada ainda em 1844 com os manuscritos Econômico-filosóficos, O Capital se propunha a ser uma “crítica da economia política”; ou seja, crítica da ordem social do capital e de sua mais elaborada representação ideológica. As categorias da economia burguesa eram deslindadas progressivamente não apenas em seu aspecto puramente econômico, mas também em sua dimensão política e ideológica, num movimento totalizante de compreensão do fenômeno social que partia de sua manifestação mais imediata, para a evidenciação de suas múltiplas determinações e conexões. Assim, apareciam não apenas as relações de exploração, como fundamento do processo de acumulação de capital, mas também o caráter alienante do trabalho e o conteúdo meramente formal da igualdade e da liberdade vislumbradas pela legalidade burguesa.

Quando lançado em alemão, o livro I não teve a repercussão esperada por seu autor, principalmente junto à classe operária. Pelo restante de sua vida, Marx não conseguiu publicar as partes posteriores de seu plano de pesquisa, dedicando-se em certa medida a divulgar o livro I e a organizar sua edição em outras línguas. Assim deixou pilhas de notas em estágios variados de sistematização e acabamento, que foram editadas e complementadas por Engels e publicadas como os livros segundo, em 1885, e terceiro, em 1894. Antes de morrer, Engels passou a tarefa de edição do livro quarto a Kautsky, que o publicou apenas em 1905. Apesar de todas essas vicissitudes nos cento e cinqüenta anos seguintes O Capital se tornou uma das obras mais traduzidas, comentadas e influentes do mundo, lido por acadêmicos, executivos, mas principalmente pelos lutadores sociais com o propósito não apenas de compreender a ordem social do capital, mas de aboli-la.

O Capital é um texto volumoso e pesado, de difícil compreensão. Não obstante, compreendemos que boa parte da dificuldade em ler e compreender a obra magna de Marx se deve ao não conhecimento do método dialético de exposição. A compreensão sistemática de O Capital só pode ser alcançada mediante uma análise de seu método expositivo. A exposição de Marx é completamente estranha ao método desenvolvido e aplicado pelos economistas clássicos. O Capital não deve ser compreendido como uma obra de Economia Política, mas, sim, como uma obra filosófica, à luz da filosofia de Hegel e da tradição dialética, nascida entre os filósofos gregos da antiguidade.

Marx investiga a mercadoria, que chama de forma celular do capital. A partir dela desenvolve os conceitos de valor de uso e valor de troca, trabalho concreto e trabalho abstrato, chega assim a uma nova teoria do valor. Investiga também as formas do valor e encontra o dinheiro como equivalente universal de troca de mercadorias. Desvela o fetiche, processo pelo qual a mercadoria ganha vida e passa a dominar as relações sociais. No momento seguinte, o processo de troca é analisado, do qual surge apenas uma relação comercial, onde um vendedor se relaciona com um comprador de mercadorias. O operário e o burguês não aparecem como tal, mas apenas o proprietário da mercadoria e o proprietário do dinheiro. Nessa esfera abstrata, as classes sociais estão mistificadas, ocultadas na forma de indivíduos iguais, livres e proprietários, realizando uma “justa” troca de equivalentes.

Claro que o capitalismo se modifica, mas o que não muda é a lógica. O capitalismo visa o lucro, a maximização do lucro, e a transformação de tudo em mercadoria, inclusive o intangível. O que é mercadoria e pode ser vendido, isso se expande, e cada vez mais. Alguns serviços providos pelo Estado, o chamado welfare, saúde, educação, não eram uma mercadoria durante um período. Ao menos nos países ocidentais esses serviços eram prestados pelo Estado. Agora ocorrem as privatizações, que cada vez mais transformam os commons em mercadoria, seja a água, seja saúde ou outras coisas.

O Brasil é parte do sistema capitalista. Então O capital dialoga, de alguma forma, com a realidade do país; se não diretamente, ao menos indiretamente. Essa é um pouco a força desse livro, que é tão abrangente que aponta como funciona o capitalismo tanto faz quando e tanto faz onde. Isso torna O capital tão atual, porque não descreve o capitalismo na Inglaterra no século XIX, é uma análise do mecanismo de funcionamento. Então enquanto persiste esse mecanismo, e você é parte disso, você pode encontrar nesse livro alguns caminhos, independente se você está no Brasil ou na África. Claro que há a critica de que toda a visão de Marx é extremamente eurocêntrica, e isso está correto em relação a alguns de seus escritos. Mas acho que isso não se aplica à análise de O capital e sua discussão do sistema.





Para saber mais


FONTES

COLETIVA, Obra. O capital. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Capital>. Acesso em: 15 abr. 2017.

DE FATO, Brasil. Marx 200 anos. 2018. Disponível em: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/05/importancia-de-karl-marx-200.html/>. Acesso em: 20 de ago de 2018  

GLASS, Verena. Aos 150 anos, “O capital” ainda dá respostas. 2017. Disponível em: <http://rosaluxspba.org/aos-150-anos-o-capital-ainda-da-respostas/>. Acesso em: 15 abr. 2017.

POLITICO, Pragmatismo. A importância de Marx 200 anos depois. 2018. Disponível em: <https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/05/importancia-de-karl-marx-200.html>. Acesso em: 20 de ago de 2018  

21, Marxismo. 150 anos de O Capital. 2017. Disponível em: <http://marxismo21.org/150-anos-de-o-capital/>. Acesso em: 15 abr. 2017.

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